12/08/2020

Real, realismo

A descoberta ou redescoberta de um filme como Let There Be Light (1946), de John Huston, não pode deixar de nos fazer pensar no poder muito real que as imagens (e os sons) podem ter no presente em que são produzidas.
Vale a pena uma breve memória: documentando o tratamento de veteranos da Segunda Guerra Mundial afectados por traumas decorrentes das situações de combate, o filme, embora uma encomenda oficial (emanada do U.S. Army Signal Corps), teria a sua difusão interdita pelo próprio Governo dos EUA; a sua amostragem pública só aconteceria a partir do início da década de 1980, vindo a ser integrado para preservação na Biblioteca do Congresso em 2010.
Dito de outro modo: há, ou pode haver, um "excesso" de realismo que o próprio real não tolera. Não é uma questão estritamente política, mas um dado ontológico — o cinema como acontecimento mais real que o próprio real. A avaliar, sempre, caso a caso.

JL